A musculação prejudica o crescimento das crianças?


O crescimento longitudinal da criança se dá, segundo Campos (2000), através da cartilagem de crescimento (placa epifisária ou disco epifisário) presente nos ossos longos, mais especificamente em suas extremidades. Essas cartilagens separam a extremidade do centro do osso e, quando ocorre o contato dessas duas regiões, considera-se interrompido o crescimento. Geralmente, os ossos fundem-se por completo por volta dos vinte anos de idade em meninos e alguns anos antes nas meninas.

O crescimento da criança também é influenciado pela ação hormonal. Entre os hormônios, podemos citar o hormônio do crescimento (GH) como sendo o principal desencadeador desse processo. Silva et al. (2004), após revisão de literatura, verificaram que o exercício físico induz a estimulação do eixo GH/IGF-1.

Quando se refere à prática de musculação, as evidências científicas sugerem que essa modalidade pode ser tanto eficaz quanto segura para crianças e adolescentes.


Diversos estudos analisam as alterações nos discos epifisários em decorrência da intervenção do treinamento de força e chegam ao consenso de que esse tipo de treinamento, quando aplicado e supervisionado de maneira correta, não acarreta alterações nas placas de crescimento dos ossos longos.

Corroborando essa ideia, Lopes (2002) conduziu estudo em que 5 crianças foram submetidas a uma programa de 12 semanas de treinamento de força. Nesse estudo, após análise das radiografias pré e pós-intervenção, concluiu-se que as crianças não sofreram alterações ou lesões nas epífises ósseas nas regiões do cotovelo e joelho.

Os fatores que podem comprometer o crescimento longitudinal seriam as lesões nas cartilagens de crescimento, que, por sua vez, acarretariam o fechamento prematuro dessa região, cessando o crescimento de forma precoce. Para que o crescimento longitudinal geral fosse comprometido, não bastaria apenas uma lesão em um único disco epifisário, mas lesões simultâneas nos discos epifisários presentes em todos os ossos longos do corpo, fato que parece ser de ocorrência muito improvável (para não dizer impossível).

Guedes Jr. (2007b) ressalta que os principais fatores causadores de lesão nos esportes são o impacto, o contato físico e os deslocamentos rápidos, e a musculação, por sua vez, não apresenta nenhuma dessas características. Portanto, pode-se concluir que essa modalidade de treinamento é segura e que o receio de que o exercício de força seja prejudicial ao crescimento ósseo parece ser infundado (Kraemer e Fleck, 2001).


Vale lembrar que as crianças não são adultos pequenos, pois apresentam particularidades. Um dos fatores que deve ser levado em consideração é o fato de que seus diversos sistemas ainda de encontram em formação e, portanto, não são capazes de suportar altas sobrecargas (Rhea, 2009). Sendo assim, no que se refere aos efeitos negativos provindos do treinamento físico durante a infância e a adolescência, aparentemente, esses são independentes do tipo de modalidade esportiva praticada, porém, resultantes da intensidade do treinamento. Silva et al. (2004) sugerem que a alta intensidade do treinamento parece ocasionar uma modulação metabólica importante, com a elevação de marcadores inflamatórios e supressão do eixo GH/IGF-1, com possíveis consequências prejudiciais ao crescimento.

Portanto, de acordo com Kraemer e Fleck (2001), o que ditará o crescimento estatural será o potencial genético em relação a essa característica física, sendo pouco influenciado pela prática do exercício físico, excetuando-se os extremos (pouquíssima atividade ou excesso de atividade).

Stay strong !

Betão

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