Se eu não mudar meu treino, o organismo passa a não responder mais aos estímulos?




Taí uma excelente pergunta! Às vezes, as pessoas gostam tanto de uma determinada planilha de exercícios que acaba não trocando a ficha de treino por meses e meses. Ao expor esse sentimento ao professor de musculação, ele aceita sem pensar, pois terá menos trabalho.

Mas o que acontece, realmente, se eu não mudar meu treino? Antes de responder à essa pergunta, precisamos entender o que é adaptação e o que é homeostase.

Adaptação, por definição, é uma reorganização orgânica e funcional do organismo diante de situações de mudanças externas e internas, ou seja, é um ajuste feito pelo organismo devido ao seu meio ambiente. As consequências da adaptação é um aumento na potencialidade vital e capacidade de resistência aos estímulos externos, além de uma melhora morfofuncional.

Um exemplo de adaptação é o desenvolvimento da capacidade física em decorrência do treinamento planejado, ainda que esse termo não seja mais usado ultimamente. Esse desuso se deu ás explicações dos especialistas em Biologia, pois, segundo eles, adaptação está associada às mutações gênicas irreversíveis ocorridas no DNA do organismo e transmitidas de geração a geração, resultantes do processo de seleção natural.

Mas meu professor disse que estou na fase de adaptação na academia”. 

Como descrito acima, adaptação está associada às alterações irreversíveis. As alterações proporcionadas pelo treinamento são reversíveis e, logo, não são adaptações. O termo correto que devemos usar para nos referirmos às modificações proporcionadas pelos exercícios físicos e treinamento contínuo são ajustamentos (ou ajustes) ou, ainda, aclimação.

O segundo termo que precisamos nos familiarizarmos é homeostase, que vem do grego homeos, que significa igual, e stasis, que significa constância. Dessa forma, entende-se por homeostase, a propriedade do organismo de regular e ajustar seu ambiente interno de modo a manter uma condição estabilizada ou em um estado de equilíbrio dinâmico. Isso só é possível através da regulação dos sistemas de catabolsimo e anabolismo dos constituintes orgânicos.

Homeodinâmica, atualmente, é o termo mais empregado para um estado de equilíbrio dinâmico, referindo-se à ocorrência constante nesses processos no organismo. Homeostase refere-se mais ao equilíbrio estático e não deve ser usado por quem treina. Termos como alostase (diferente constância) e homeorese (busca do equilíbrio) são os termos que devem ser usados por quem treina musculação. Homeostase nunca!!!

Já tive a oportunidade de ouvir que “quanto mais treinado você é, menos treinável você fica”. O que isso quer dizer? Que quanto maior for o seu nível de aptidão física, mais difícil será conseguir algum tipo de melhoria através de treinamento. Isso porque o organismo tem a capacidade de se ajustar e adaptar aos estímulos externos que sofre, desde que adequados, claro. O treinamento nos deixa mais fortes e mais tolerantes à dor. E não poderia ser diferente: se nosso organismo não respondesse dessa forma, o treinamento não teria sentido. Sendo assim, o ajustamento ás condições externas sempre irão ocorrer.

E aí está o lado negativo desse fato: após determinado período exposto a um estímulo externo de mesma intensidade (mesma carga, por exemplo), esse estímulo passa a não ser suficiente para quebrar a homeorese desse organismo e não ocorrem novos ajustes ou aclimações. Um estímulo que era forte e adequado passa a ser fraco e ineficiente. Sobrecargas constantes (mesmo peso utilizado sempre) contribuem para a manutenção do desempenho que foi adquirido. Não aumentam o desempenho e posso até afirmar que podem proporcionar prejuízos se mantidos por muito tempo. Sim, prejuízos!

Se você utiliza sempre a mesma carga, mesmo exercício, mesma intensidade, ocorrerá o fenômeno chamado acomodação, que é quando queremos “apenas” promover a saúde e a manutenção dela, mas sem variabilidade de periodização, com um estímulo continuado e não variado.
Concluímos, através do texto, que temos a necessidade de sempre variar a intensidade dos estímulos para evitar um platô (estagnação) do rendimento.

Na musculação, existem “n” maneiras de variar o estímulo. O mais comum e mais instintivo é o princípio da sobrecarga progressiva, onde, como o próprio nome sugere, a carga é aumentada de acordo com o tempo e com os ajustes sofridos pelo indivíduo diante o treino com pesos. E aqui requer uma outra atenção. Esse ajuste na sobrecarga deve ser feito de forma consciente para que não crie algum tipo de lesão e nem prejudique o desempenho do indivíduo. Caso esse estímulo não seja adequado, ele pode se encaixar em duas situações distintas.

Estímulos fracos: não quebrar a homeorese, não proporcionam ajustes. Estímulos muito fortes: vão além da capacidade de assimilação e ajuste do organismo, podendo inclusive, levar ao overtraining (excesso de exercícios, associado a dieta inadequada e período de recuperação incorreto).

É papel do profissional de Educação Física que atua na área da musculação aplicar esses conceitos expostos, isto é, auxiliar o aluno a mudar o estímulo sempre que necessário. Um período aceitável de troca de treino seria algo em torno de 1 a 3 meses, que pode variar de acordo com a aptidão física e reposta ao estímulo de cada um.

Pra ressaltar, a ciência diz que esse tempo de troca de treino deve ser entre 8 a 12 semanas, o que vai de encontro com o que é feito, atualmente, na maioria das academias do Brasil. Se você foi deixado de lado e está fazendo seu treino a 5-6 meses, esse pode ser o motivo pelo qual você não vê mais resultados na musculação. 

Stay strong !

Betão

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